07/08/2017

Dona Alila, um armarinho centenário e três histórias de amor em São José do Egito


Do Diário de Pernambuco - Aos 93 anos, Dona Maria José Veras Lyra é personagem ilustre de São José do Egito, Terra da Poesia, onde ela cria cinco gatos e viveu três grandes paixões


Bem no Centro de São José do Egito, no Sertão pernambucano, um armarinho abre as portas todos os dias, há mais de cem anos, antes das nove da manhã. O casarão é fechado somente após as cinco da tarde e é o único da região a revender a marca de linhas de costura Corrente Laranja – todo bom costureiro poderá atestar a relevância dessa informação. O armarinho não dá dinheiro, isso fica bem claro. Dona Alila, a cativante senhora de 93 anos por trás do balcão, apura menos de R$ 10 por dia. E que ninguém se engane: ela vive da aposentadoria como professora e de pensão obtida com a viuvez. Se continua a abrir as portas do estabelecimento, coisa que há alguns anos não pode fazer sem a ajuda da amiga Lúcia, de quase metade de sua idade, é para preservar a lucidez, ver o movimento da cidade e manter vivas suas histórias de amor. Isso porque Dona Alila nem sempre foi uma senhora de 93 anos, viúva, com cinco gatos e rotina pacata no pequeno município do Pajeú. Muito antes de ser a guardiã da Casa Lyra, armarinho fundado em 1915, apaixonou-se à primeira vista e a vida mudou.

Era a década de 1940 quando a roda do destino de Alila começou a girar: Alila passava as férias na casa da madrinha, em São José, e conheceu Mário Vieira de Lyra. Foi amor instantâneo e se provou longevo, de modo que ela passaria um mês na cidade em que, como se sabe, passou toda a vida. “Cheguei em 1946. Depois de algumas semanas, recebi uma carta da minha irmã Estela, pedindo que eu não desse conversa a um rapaz chamado Mário, por quem ela tinha se apaixonado pouco antes, quando visitava a cidade. Era justamente o rapaz por quem eu já estava apaixonada”, lembra Maria José Veras Lyra, a Dona Alila. Ela ri das coincidências da vida. Naquele mesmo ano, em respeito à irmã, arrumou as malas e voltou à cidade natal: o melhor a fazer era manter distância, antes que houvesse motivo de desafeto na família. Dias depois, contudo, o rapaz bateu ao portão da casa dos Vera, em Afogados da Ingazeira, e pediu a mão de Alila em casamento.

(Mais Pajeú)

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