Agricultores de Pernambuco aprendem a produzir com pouca água
Com soluções simples e ajuda da cooperativa, produtores do sertão variam suas atividades: frutas, hortaliças e até peixes surgem onde só havia seca.
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Cristina VieiraTabira, PE
O homem do sertão é acostumado a conviver com as armadilhas do clima, principalmente a seca. Aproveitar a pouca água é sempre um desafio. É isso que um agricultor vem fazendo junto de uma cooperativa de pequenos produtores, em Pernambuco.
"O que eu vivi antes aqui, sem ter água... hoje a gente se considera outra pessoa, diferente, rico. Porque tendo água, tem riqueza".
Seu Raimundo Morato tem autoridade para falar assim. Sertanejo, sabe bem o que é conviver com a falta de água. Para entender como a vida da família dele está mudando, vamos conhecer o que está por trás de tudo isso: o trabalho de uma cooperativa de pequenos agricultores.
o município de Tabira, na região do sertão do Pajeú, em Pernambuco, fica a sede da Coodapis, que até bem pouco tempo atrás se dedicava principalmente à apicultura. Com novas técnicas, os produtores conseguiram baixar custos e melhorar a qualidade do mel. Hoje, o mel de Tabira é referência no estado!
À frente da cooperativa, está Adelmo Cabral, um agricultor inquieto, que achou que não dava para ficar só na produção de mel. E ele conta o que o motivou a diversificar: "O castigo da seca. Estamos indo para 5 anos de seca e a gente viu que tinha que fazer alguma coisa diferente. Se ficasse na mesmice, acho que a cooperativa não ia muito além".
A mudança começou há dois anos, na própria área da cooperativa, que serve de experimento para os associados. Ao lado de um açude quase seco, tem verde, tem lavoura! "A gente provou a todo mundo que com pouca água dá pra se fazer muito" conta Adelmo, orgulhoso.
A pouca água vem de um poço que já existia na propriedade, mas que ninguém botava fé. Ele tem 40 metros de profundidade e uma vazão de 600 litros de água por hora. "As informações que eu fui buscar, disseram que não dava pra fazer nada. Tinha que ter vazão acima de mil litros de água por hora. Esse poço mal dá pra alimentar uma resma de gado. O desafio é esse, então vamos procurar fazer pra ver se vai dar certo. E deu", afrima Adelmo.
O poço fica ligado 24 horas. Como a vazão é pequena, Adelmo usa um cano de 32 milímetros para a saída da água. Assim, não força muito a bomba. "É como se fosse um olho d'água na propriedade", analisa ele, que também afirmou que o poço nunca secou.
Hoje, são 12 hectares de plantio, principalmente de hortaliças e frutas, como maracujá, uva, banana. Tudo com certificação orgânica.
Todas as lavouras da área da cooperativa são irrigadas. A água segue do poço para tanques, para ser distribuída, mas não vai de imediato para as plantas. Primeiro, ela tem outra utilidade: a criação de tilápias.
Os tanques de tilápia são de concreto, têm 3m de diâmetro, 1,70m de profundidade e comportam 12 mil litros de água. Segundo Adelmo, esse não é um sistema convencional de criação de tilápias. Ele começa com 1.200 alevinos em um único viveiro. São 100 peixes por metro cúbico. No método convencional, para esse tipo de tanque, com água represada, o usual são três peixes por metro cúbico.
Adelmo tem uma receita para o sistema funcionar. Primeiro: em seis meses, quando as tilápias atingem 600 gramas, inicia-se o processo de despesca. Com esse peso, os peixes já podem ser vendidos. "Consequentemente, o peixe que vai ficar na água ele vai crescer, então vai precisar de mais espaço. Então a gente despesca 50% dos peixes. Fica a metade dos peixes aqui, para aguentar até mais um ano, um ano e meio".
Mas não é só isso. Enquanto que no sistema convencional, em tanques de concreto ou escavados, a troca da água é mais lenta, no sistema da cooperativa a renovação deve ser frequente. Isso porque a concentração de dejetos facilita a produção de amônia, que, em excesso, mata os peixes. "A matéria orgânica produzida nesse espaço é muito grande, devido ao resíduo das fezes dos peixes, restos de alimentos e a secreção do peixe. Por isso que a gente tem que remover essa água a cada dois ou três, para eliminar as toxinas que são produzidas na água".
O ideal é sempre retirar metade da água do tanque. Nunca toda de uma só vez. O que sai é o que vai para a irrigação.
Mais uma dica é a cada 15 dias aspirar o fundo do tanque para remover os resíduos sólidos. Outro detalhe importante é a oxigenação. Adelmo usa as bombas comuns, que renovam a água, mas faz adaptações que aumentam a quantidade de ar para os peixes: "A gente usa mangueiras para puxar o ar, e aumentar a quantidade de oxigênio". Ele explica como faz esta adaptação no vídeo da reportagem.
Uma tela colocada em cima dos tanques, além de evitar que os peixes maiores pulem para fora, é uma questão de segurança que Adelmo encontrou para tranquilizar os criadores: "Quando a gente vai abordar o associado para criar o peixe, ele diz que não dá pra criar porque tem muito ladrão de peixe. Então já cria uma dificuldade".
Cada um dos sete viveiros abriga os peixes de um associado. E irriga a lavoura de vários agricultores. Adelmo explica a vantagem de usar, para irrigação, a água que foi retirada nos tanques dos peixes: "Ela vem rica em nutrientes para a planta. Então o solo, cada dia mais, ele vai ficando melhor, mais rico. Então a gente não tem muita necessidade de colocar adubo químico, muito esterco, porque a própria água já vem rica em nutriente".
A técnica para molhar as plantas também é uma invenção de Adelmo. "O sistema de gotejo e de microaspersor não funciona. Porque a água sai com resíduos das fezes dos peixes e, às vezes, com ração. E entope rapidinho. Então a gente pega só o terminal do microaspersor, porque o buraco dele é um pouco maior, então os resíduos conseguem passar por aqui. Aí dentro eu coloco um arame para direcionar a irrigação para a planta".
Para as plantas que exigem mais água, a mangueira é maior. A banana é molhada todo dia. Em dois hectares estão 50 pés, de nove associados. Nas culturas que não precisam de irrigação sempre, o intervalo é no máximo de três dias, porque junto, vem a necessidade de renovar a água do tanque. É peixe que garante nutrientes para as plantas. E lavouras que servem às tilápias.
Para baratear o custo do alimento dos peixes, os agricultores se prepararam. Antes de colocar as tilápias nos tanques, eles plantaram milho e capim exclusivamente para fabricar a ração. A máquina que produz a ração foi comprada pela cooperativa para atender aos associados. A base é o farelo de milho - os grãos triturados.
Outras vitaminas e a proteína também vêm da roça, como Adelmo conta: "Aqui a gente tem o capim elefante, folha do pé de milho. O pé de gerimum, abóbora, a palma. E o broto da mandioca, que concentra a maior quantidade de proteína".
As folhas e brotos são batidos no liquidificador com água, um pouco de sal e óleo vegetal. Essa pasta é misturada ao farelo e então, a ração é peletizada, ou seja: compactada em pequenas porções. Depois, ela fica dois dias no sol, e está pronta. É o tempo suficiente também para a evaporação do ácido cianídrico, que é um veneno presente na folha verde da mandioca. O alimentador dos tanques é automático, movido a energia solar. Quatro vezes ao dia, as tilápias recebem comida.
Não só a ração dos peixes é feita na cooperativa. O milho e o capim viram comida para as galinhas caipiras, que aproveitam ainda as sobras da lavoura. A criação é um projeto piloto, que a dona Leonísia Almeida cuida com carinho: "Se estragava muita banana, melancia, e eu disse por que não utilizar essas frutas que estão sendo jogadas?"
Para quem quer começar, a cooperativa fornece 20 pintinhos e depois ajuda o associado na comercialização. "Se cada um, um tiver 20, outros 50, 100, isso dá um volume grande que tem como colocar num grande mercado", afirma dona Leonísia.
Aos poucos, Adelmo vai disseminando suas ideias por aqui. Natural de Recife, ele chegou ao sertão há 10 anos, depois de casar. Formado em belas artes, não exerce a carreira, mas está sempre inventando. "Não paro de praticar a minha arte aqui, nessa terra bruta e lapidando e criando coisas que as pessoas acham 'é impossível', e a gente vai fazendo".
Seu Raimundo, do começo da reportagem, também é um dos agricultores que estão mudando o jeito de conviver com a seca. Acostumado a criar tilápia em açudes, agora usa um dos tanques da cooperativa. Ele conta que não imaginava que pudesse funcionar: "Esse conhecimento aqui eu não tinha não. Eu achava que podia não dar certo, né? Eu pensava como que o pessoal desenvolveu esse tanque, sem ter lama para ele comer, aquela comida com capim, aquelas coisas lá, esse peixe não vai se desenvolver. É tudo puro engano meu, não sabia de nada, né?".
Raimundo mora no município de Santa Teresa, a 30 Km de Tabira. Lá, ele tem uma roça, que cuida junto com a esposa, dona Bernardete. A produção em 11 hectares, dependia só de um açude que não enche mais. “Aqui era para gado, era para pasto, era para tudo”
As coisas começaram a mudar há seis meses, quando a cooperativa abriu um poço para o Raimundo. E que surpresa!! São 800 litros de água por hora. Ele nem imaginava que tinha tanta água ali, logo abaixo dos pés: "Não tinha essa noção, de jeito nenhum. É a coisa de a gente dormir pobre e acordar rico. Porque a gente ter água num subsolo desse aqui, a gente dorme pobre e acorda rico".
Com essa riqueza, seu Raimundo vai construir dois tanques para tilápia. Por enquanto, a água do poço segue para a caixa, que, por gravidade, chega ao capim - alimento das cabras - e às hortaliças. Dona Bernardete comemora: "Foi bom demais, eu não tenho palavras para agradecer o que a gente ta colhendo agora".
Nunca falta produto, e o poço é até chamado de cofre, como conta o seu Raimundo: "Toda vez que tô em casa, o pessoal liga: 'trás três molhos de coentro, um molho de cebola', nunca volto sem nada. Quer dizer que isso aqui é meu cofre. Toda vez que eu venho para cá, eu levo um dinheirinho pra casa".
A renda melhorou. Mas eles querem bem mais. Esse ano, o casal voltou para a escola, para terminar o ensino fundamental. Incentivado pela cooperativa, seu Raimundo já fez até curso de estratégia de negócios: "Você ter o que é seu e saber administrar, isso é mto bom, né? A gente não sabia. Tinha o que era da gente e não sabia administrar. Minha meta agora é não parar. Eu enquanto for vivo, daqui pra frente, eu com a minha família, tenho que trabalhar".
A cooperativa tem 245 associados, em Pernambuco, Paraíba, Piauí e Bahia. A maioria é de apicultores. Mas pelo menos 10 produtores já estão implantando as técnicas para aproveitar melhor a água.
Com soluções simples e ajuda da cooperativa, produtores do sertão variam suas atividades: frutas, hortaliças e até peixes surgem onde só havia seca.
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Cristina VieiraTabira, PE
O homem do sertão é acostumado a conviver com as armadilhas do clima, principalmente a seca. Aproveitar a pouca água é sempre um desafio. É isso que um agricultor vem fazendo junto de uma cooperativa de pequenos produtores, em Pernambuco.
"O que eu vivi antes aqui, sem ter água... hoje a gente se considera outra pessoa, diferente, rico. Porque tendo água, tem riqueza".
Seu Raimundo Morato tem autoridade para falar assim. Sertanejo, sabe bem o que é conviver com a falta de água. Para entender como a vida da família dele está mudando, vamos conhecer o que está por trás de tudo isso: o trabalho de uma cooperativa de pequenos agricultores.
o município de Tabira, na região do sertão do Pajeú, em Pernambuco, fica a sede da Coodapis, que até bem pouco tempo atrás se dedicava principalmente à apicultura. Com novas técnicas, os produtores conseguiram baixar custos e melhorar a qualidade do mel. Hoje, o mel de Tabira é referência no estado!
À frente da cooperativa, está Adelmo Cabral, um agricultor inquieto, que achou que não dava para ficar só na produção de mel. E ele conta o que o motivou a diversificar: "O castigo da seca. Estamos indo para 5 anos de seca e a gente viu que tinha que fazer alguma coisa diferente. Se ficasse na mesmice, acho que a cooperativa não ia muito além".
A mudança começou há dois anos, na própria área da cooperativa, que serve de experimento para os associados. Ao lado de um açude quase seco, tem verde, tem lavoura! "A gente provou a todo mundo que com pouca água dá pra se fazer muito" conta Adelmo, orgulhoso.
A pouca água vem de um poço que já existia na propriedade, mas que ninguém botava fé. Ele tem 40 metros de profundidade e uma vazão de 600 litros de água por hora. "As informações que eu fui buscar, disseram que não dava pra fazer nada. Tinha que ter vazão acima de mil litros de água por hora. Esse poço mal dá pra alimentar uma resma de gado. O desafio é esse, então vamos procurar fazer pra ver se vai dar certo. E deu", afrima Adelmo.
O poço fica ligado 24 horas. Como a vazão é pequena, Adelmo usa um cano de 32 milímetros para a saída da água. Assim, não força muito a bomba. "É como se fosse um olho d'água na propriedade", analisa ele, que também afirmou que o poço nunca secou.
Hoje, são 12 hectares de plantio, principalmente de hortaliças e frutas, como maracujá, uva, banana. Tudo com certificação orgânica.
Todas as lavouras da área da cooperativa são irrigadas. A água segue do poço para tanques, para ser distribuída, mas não vai de imediato para as plantas. Primeiro, ela tem outra utilidade: a criação de tilápias.
Os tanques de tilápia são de concreto, têm 3m de diâmetro, 1,70m de profundidade e comportam 12 mil litros de água. Segundo Adelmo, esse não é um sistema convencional de criação de tilápias. Ele começa com 1.200 alevinos em um único viveiro. São 100 peixes por metro cúbico. No método convencional, para esse tipo de tanque, com água represada, o usual são três peixes por metro cúbico.
Adelmo tem uma receita para o sistema funcionar. Primeiro: em seis meses, quando as tilápias atingem 600 gramas, inicia-se o processo de despesca. Com esse peso, os peixes já podem ser vendidos. "Consequentemente, o peixe que vai ficar na água ele vai crescer, então vai precisar de mais espaço. Então a gente despesca 50% dos peixes. Fica a metade dos peixes aqui, para aguentar até mais um ano, um ano e meio".
Mas não é só isso. Enquanto que no sistema convencional, em tanques de concreto ou escavados, a troca da água é mais lenta, no sistema da cooperativa a renovação deve ser frequente. Isso porque a concentração de dejetos facilita a produção de amônia, que, em excesso, mata os peixes. "A matéria orgânica produzida nesse espaço é muito grande, devido ao resíduo das fezes dos peixes, restos de alimentos e a secreção do peixe. Por isso que a gente tem que remover essa água a cada dois ou três, para eliminar as toxinas que são produzidas na água".
O ideal é sempre retirar metade da água do tanque. Nunca toda de uma só vez. O que sai é o que vai para a irrigação.
Mais uma dica é a cada 15 dias aspirar o fundo do tanque para remover os resíduos sólidos. Outro detalhe importante é a oxigenação. Adelmo usa as bombas comuns, que renovam a água, mas faz adaptações que aumentam a quantidade de ar para os peixes: "A gente usa mangueiras para puxar o ar, e aumentar a quantidade de oxigênio". Ele explica como faz esta adaptação no vídeo da reportagem.
Uma tela colocada em cima dos tanques, além de evitar que os peixes maiores pulem para fora, é uma questão de segurança que Adelmo encontrou para tranquilizar os criadores: "Quando a gente vai abordar o associado para criar o peixe, ele diz que não dá pra criar porque tem muito ladrão de peixe. Então já cria uma dificuldade".
Cada um dos sete viveiros abriga os peixes de um associado. E irriga a lavoura de vários agricultores. Adelmo explica a vantagem de usar, para irrigação, a água que foi retirada nos tanques dos peixes: "Ela vem rica em nutrientes para a planta. Então o solo, cada dia mais, ele vai ficando melhor, mais rico. Então a gente não tem muita necessidade de colocar adubo químico, muito esterco, porque a própria água já vem rica em nutriente".
A técnica para molhar as plantas também é uma invenção de Adelmo. "O sistema de gotejo e de microaspersor não funciona. Porque a água sai com resíduos das fezes dos peixes e, às vezes, com ração. E entope rapidinho. Então a gente pega só o terminal do microaspersor, porque o buraco dele é um pouco maior, então os resíduos conseguem passar por aqui. Aí dentro eu coloco um arame para direcionar a irrigação para a planta".
Para as plantas que exigem mais água, a mangueira é maior. A banana é molhada todo dia. Em dois hectares estão 50 pés, de nove associados. Nas culturas que não precisam de irrigação sempre, o intervalo é no máximo de três dias, porque junto, vem a necessidade de renovar a água do tanque. É peixe que garante nutrientes para as plantas. E lavouras que servem às tilápias.
Para baratear o custo do alimento dos peixes, os agricultores se prepararam. Antes de colocar as tilápias nos tanques, eles plantaram milho e capim exclusivamente para fabricar a ração. A máquina que produz a ração foi comprada pela cooperativa para atender aos associados. A base é o farelo de milho - os grãos triturados.
Outras vitaminas e a proteína também vêm da roça, como Adelmo conta: "Aqui a gente tem o capim elefante, folha do pé de milho. O pé de gerimum, abóbora, a palma. E o broto da mandioca, que concentra a maior quantidade de proteína".
As folhas e brotos são batidos no liquidificador com água, um pouco de sal e óleo vegetal. Essa pasta é misturada ao farelo e então, a ração é peletizada, ou seja: compactada em pequenas porções. Depois, ela fica dois dias no sol, e está pronta. É o tempo suficiente também para a evaporação do ácido cianídrico, que é um veneno presente na folha verde da mandioca. O alimentador dos tanques é automático, movido a energia solar. Quatro vezes ao dia, as tilápias recebem comida.
Não só a ração dos peixes é feita na cooperativa. O milho e o capim viram comida para as galinhas caipiras, que aproveitam ainda as sobras da lavoura. A criação é um projeto piloto, que a dona Leonísia Almeida cuida com carinho: "Se estragava muita banana, melancia, e eu disse por que não utilizar essas frutas que estão sendo jogadas?"
Para quem quer começar, a cooperativa fornece 20 pintinhos e depois ajuda o associado na comercialização. "Se cada um, um tiver 20, outros 50, 100, isso dá um volume grande que tem como colocar num grande mercado", afirma dona Leonísia.
Aos poucos, Adelmo vai disseminando suas ideias por aqui. Natural de Recife, ele chegou ao sertão há 10 anos, depois de casar. Formado em belas artes, não exerce a carreira, mas está sempre inventando. "Não paro de praticar a minha arte aqui, nessa terra bruta e lapidando e criando coisas que as pessoas acham 'é impossível', e a gente vai fazendo".
Seu Raimundo, do começo da reportagem, também é um dos agricultores que estão mudando o jeito de conviver com a seca. Acostumado a criar tilápia em açudes, agora usa um dos tanques da cooperativa. Ele conta que não imaginava que pudesse funcionar: "Esse conhecimento aqui eu não tinha não. Eu achava que podia não dar certo, né? Eu pensava como que o pessoal desenvolveu esse tanque, sem ter lama para ele comer, aquela comida com capim, aquelas coisas lá, esse peixe não vai se desenvolver. É tudo puro engano meu, não sabia de nada, né?".
Raimundo mora no município de Santa Teresa, a 30 Km de Tabira. Lá, ele tem uma roça, que cuida junto com a esposa, dona Bernardete. A produção em 11 hectares, dependia só de um açude que não enche mais. “Aqui era para gado, era para pasto, era para tudo”
As coisas começaram a mudar há seis meses, quando a cooperativa abriu um poço para o Raimundo. E que surpresa!! São 800 litros de água por hora. Ele nem imaginava que tinha tanta água ali, logo abaixo dos pés: "Não tinha essa noção, de jeito nenhum. É a coisa de a gente dormir pobre e acordar rico. Porque a gente ter água num subsolo desse aqui, a gente dorme pobre e acorda rico".
Com essa riqueza, seu Raimundo vai construir dois tanques para tilápia. Por enquanto, a água do poço segue para a caixa, que, por gravidade, chega ao capim - alimento das cabras - e às hortaliças. Dona Bernardete comemora: "Foi bom demais, eu não tenho palavras para agradecer o que a gente ta colhendo agora".
Nunca falta produto, e o poço é até chamado de cofre, como conta o seu Raimundo: "Toda vez que tô em casa, o pessoal liga: 'trás três molhos de coentro, um molho de cebola', nunca volto sem nada. Quer dizer que isso aqui é meu cofre. Toda vez que eu venho para cá, eu levo um dinheirinho pra casa".
A renda melhorou. Mas eles querem bem mais. Esse ano, o casal voltou para a escola, para terminar o ensino fundamental. Incentivado pela cooperativa, seu Raimundo já fez até curso de estratégia de negócios: "Você ter o que é seu e saber administrar, isso é mto bom, né? A gente não sabia. Tinha o que era da gente e não sabia administrar. Minha meta agora é não parar. Eu enquanto for vivo, daqui pra frente, eu com a minha família, tenho que trabalhar".
A cooperativa tem 245 associados, em Pernambuco, Paraíba, Piauí e Bahia. A maioria é de apicultores. Mas pelo menos 10 produtores já estão implantando as técnicas para aproveitar melhor a água.
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