Processo de depuração que não vai deixando pedra sobre pedra nos esquemas de corrupção na maior estatal do País resulta em novos mecanismos de governança; espetáculo de prisão de empreiteiros cria parâmetros inéditos na relação entre iniciativa privada e Estado; tabu de que corruptores não são presos caiu; devolução de fortunas advindas de contratos superfaturados mostra que meios para aproveitar roubos são cada vez mais escassos; inclusão em listas da Interpol globaliza criminosos; quem vai querer tentar ser o próximo?
247 – No plano imediato, o furacão Lava-Jato que está sacudindo a Petrobras vai resultando em punições à empresa no mercado financeiro. Nesta segunda-feira 17, após a presidente Graça Foster anunciar nada menos que 60 medidas para aprimorar os mecanismos de governança corporativa, os papeis da estatal caíram forte, em menos 5% no fechamento do pregão. No entanto, no médio e longo prazos a Petrobras está lançando as bases para um futuro de fortalecimento.
Pela primeira vez, a partir de um trabalho conjunto entre a Justiça e a Polícia Federal, o País está assistindo à prisão de corruptores, além de obter a extração de depoimentos detalhados de corruptos sobre operações criminosas. Como nunca antes, os elementos de investigação vão se somando a ações práticas apresentadas em rede nacional à Nação, na forma de prisões em série sob justificativas bastante compreensíveis ao nível popular. Pedra sobre pedra, como disse a presidente Dilma Rousseff, vão caindo para derrubar o código não escrito do 'sempre foi assim' para dar lugar ao novo momento de 'isso não será mais assim'.
A institucionalização da delação premiada está na base dessa transformação dura, porém em todos os aspectos positiva. A partir de agora, o relacionamento entre agentes públicos e privados mal intencionados não será mais o mesmo, uma vez que o medo real de prisões e processos finalmente se materializou.
O que está surgindo em torno do escândalo da Lava-Jato é absolutamente inédito em relação ao passado. O processo de esconder escândalos em baixo do tapete, obter salvos-condutos junto à mídia e fazer, assim, a blindagem de malfeitos foi ultrapassado pelos fatos. As instituições estão se mostrando muito mais fortes do que o jeitinho de sempre.
Não é, portanto, pouca coisa que está em mudança. Dentro da Petrobras, a criação de uma nova diretoria de Governança promete mudar o padrão ético do relacionamento da companhia com o mundo de negócios que a cerca. Empresas com ficha suja não poderão mais ter negócios com a companhia. Para os corruptores, que até agora gozavam, na prática, de imunidade, os bons tempos acabaram. Caçados no Brasil, eles estarão em listas de procurados pela Interpol. Para eles, o mundo ficou menor, com chances de fuga bastante reduzidas. Ao mesmo tempo, recentes alterações nas leis financeiras e contra a lavagem de dinheiro acabaram com as contas sem identificação clara. Significa que guardar somas enormes de dinheiro sujo passa a ser cada vez mais complicado.
Esse conjunto de fatores aponta para uma espécie de refundação, em termos bem mais nobres que os anteriores, das relações entre empresários e o poder público. De inteiramente promíscuas, como se vê nas descobertas da Lava-Jato, elas terão de se tornar, queira-se ou não, de respeito e receio. Propostas sobre obter vantagens ilícitas em cima de contratos milionários vão sendo sufocadas pelo avanço da tecnologia, que a tudo escuta e vê, e, principalmente, pelo medo renovado dos agentes que potencialmente podem se envolver em problemas dessa natureza. O elemento medo de ir para a cadeia vai falar mais alto nessas horas. O maior legado da Lava-Jato, ao lado de todas as recuperações de recursos que vão sendo conseguidas, está em seu efeito multiplicador sobre muitas outras tentativas de fraude que deixarão de ser consumadas ou, quando feitas, apanhadas pelas autoridades.
Nenhum comentário:
Postar um comentário