05/09/2014

BOMBA ATÔMICA DE COSTA MUDA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL?


Profecia do ex-diretor da Petrobras era a de que não haveria eleição se ele falasse; e desde a sexta-feira 29, ao Ministério Público, em Curitiba, Paulo Roberto Costa está contando o que sabe; ele já teria denunciado 61 parlamentares e 1 governador de Estado; caso tem todos os elementos para alavancar os apelos de Marina Silva, do PSB, pela "nova política", e dar novo ânimo ao PSDB, de Aécio Neves, para acirrar a oposição contra o PT; a maior incógnita é como a presidente Dilma Rousseff, em momento de recuperação na disputa, será impactada pelas repercussões dessa delação premiada; ela conseguirá resistir?

247 – A verdadeira bomba atômica disparada pela delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa acertou em cheio o Congresso Nacional. As primeiras informações sobre o conteúdo dos depoimentos que ele vem concedendo ao Ministério Público, em Curitiba, desde a sexta-feira 29, apontam para a citação de 61 parlamentares, entre deputados e senadores, um governador de Estado e pelo menos cinco partidos políticos, envolvidos num esquema de propinas de 3% nos contratos entre grandes empreiteiras e a estatal.

Em sua profecia, anunciada de dentro da prisão da Polícia Federal, no Paraná, onde está desde março – ele experimentou um breve período de liberdade em maio, mas voltou a ser encarcerado em junho --, Costa disse: 'se eu falar, não vai ter eleição'. Ao que se vê pelo nervosismo dos políticos, já se sabe que a sucessão presidencial ganhou um ar ainda mais dramático do que o respirado até aqui.

Indicado pelo PP, em 2002, no início do governo Lula, para participar da diretoria da estatal, Costa era ligado ao então deputado José Janene, já falecido. É um exemplo em carne e osso de como se dá, e dos riscos implícitos nela, uma política de coalizão. Já ficou provado que o ex-diretor movimentou na Suíça uma conta com US$ 23 milhões em seu nome.

Pela amplitude, a delação premiada de Costa tem todos os elementos para dar mais combustível ao discurso de nova política praticado pela candidata do PSB, Marina Silva. Empatada tecnicamente com a presidente Dilma Rousseff, do PT, em primeiro turno, e ponteando as projeções para uma segunda volta, Marina pode encontrar no escândalo um atalho para escapar das críticas sobre suas alianças eleitorais e idas e vindas de seu programa de governo. Entre plágios e improvisos, o texto de 242 páginas no qual Marina se apoia lhe deu, até aqui, muito mais dores de cabeça do que elogios. Mudar de assunto seria perfeito para ela.

À medida em que nomes forem sendo revelados, a denúncia de Costa também pode dar novo ímpeto à campanha do senador Aécio Neves. Depois de ter sido abafado pelo surgimento de Marina, o presidente do PSDB já espera ter nova munição ao surgirem nomes de políticos do PT, do PMDB e de outras agremiações da base aliada do governo na denúncia de Costa. A expectativa de que os dois partidos sejam atingidos é grande, uma vez que, ao todo, 61 parlamentares já teriam sido citados pelo depoente premiado. Os tucanos, que estão na oposição desde 2002, têm muito a comemorar diante do fato novo.

É a presidente Dilma Rousseff que terá o maior desafio para tourear as revelações que, a partir de agora, certamente começarão a despontar. Apesar de Costa estar desligado de suas funções na Petrobras, a oposição obteve uma oportunidade de ouro para retomar o discurso de ataques à administração da estatal. Numa fase de recuperação de sua competitividade, Dilma e seu núcleo duro de campanha torciam para que os ecos dos depoimentos de Costa só viessem a ser ouvidos no pós-eleição, mas o que passa a acontecer a partir de hoje é exatamente o contrário. O estrondo só tende a ser maior à medida em que se conheçam novos personagens e detalhes do esquema de propinas em torno de 3% dos valores de contratos entre empreiteiras e a estatal.

A eleição que recomeçou a partir da morte do presidenciável Eduardo Campos tem agora, com a bomba atômica de Paulo Roberto Costa, mais um momento de extrema tensão. Mais uma vez, a resistência de Dilma enfrentará uma prova de fogo. Talvez a maior de todas nesta campanha dominada pelo imponderável.

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