28/05/2014

RECIFE:Audiência debate invisibilidade de doenças causadas pelo amianto

Uma tragédia social que atinge o mundo inteiro faz vítimas invisíveis no Recife. Sem espaço na mídia, ex-trabalhadores de empresas como Brasilit e Eternit, vítimas de doenças causadas pelo amianto, e seus familiares, travam uma batalha silenciosa em busca de justiça. Para debater o assunto, a vereadora Aline Mariano realizou, na manhã desta terça-feira (27), uma audiência pública sobre a invisibilidade das doenças causadas pela substância no Plenarinho da Câmara Municipal.

O encontro contou com a presença da auditora fiscal do Ministério do Trabalho, Fernanda Giannasi; da diretora jurídica da Associação Pernambucana dos Expostos ao Amianto, a Sra. Maria Geruza Elvas; da presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas de Pernambuco, Patrícia Carvalho; da promotora do Ministério do Trabalho, Débora Tito, do representante do Ministério do Trabalho, Luís Antônio Melo, da médica especializada Jandira Dantas e da chefe do Núcleo de Atenção à Saúde do Trabalho, da Secretaria de Saúde do Recife, Rosinete da Silva.

O amianto é uma fibra mineral natural extraída de rochas, usado para fabricar quase três mil produtos industriais entre os quais telhas e caixas d'água. A exposição ao amianto pode causar câncer. A substância é apontada como responsável por mais de 200 mil mortes nos Estados Unidos no século XX e 200 mortes por ano no Brasil.

Em Recife, a Associação Pernambucana de Expostos ao Amianto está movendo 37 ações judiciais contra a Brasilit, por entender que os antigos funcionários podem ter se contaminado nos anos que trabalharam na fábrica. Durante a audiência, diversos relatos foram apresentados, entre eles o de Marina de Albuquerque, que perdeu o pai, vítima de derrame pleural causado por exposição a substância. Emocionada, Marina contou a luta do pai para obter indenização da empresa e desabafou: “Espero que as pessoas que hoje estão aqui obtenham o reconhecimento de seus direitos e sejam indenizados ainda em vida. Porque o fica em casos como o do meu pai, é só o desespero da família”.

Aline Mariano se comprometeu a lutar junto com as vítimas não apenas pelo reconhecimento judicial, mas também pelo banimento do uso do amianto no Recife. “Não existe indenização que pague a vida de um ente querido. Mas as empresas precisam ser punidas e as vítimas e familiares precisam ter seus direitos respeitados”, afirmou a vereadora.

Ao fim da audiência, ficou definida a montagem de um grupo de trabalho envolvendo todas as entidades participantes para redigir o texto de uma lei que proíba o uso do amianto em Recife; determine regras para seu descarte; obrigue escolas que utilizem telhas ou caixas d’água feitas de amianto e trocar os materiais por equivalentes livres da substância; e obrigue as empresas a explicitar em seus produtos se sua fórmula contém ou não amianto, entre outras providências.

“Como esta, já abraçamos muitas outras causas invisíveis, como a garantia de atendimento adequado na rede de saúde para portadores de lipodistrofia. Não vamos desistir até conseguirmos um resultado positivo”, assegurou a parlamentar. “Queremos que o Recife se torne uma referência nacional no combate ao uso de amianto”, completou.



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