05/04/2014

Criado no Recife, José Wilker marcou a história da cultura pernambucana

José Wilker faleceu aos 66 anos, no Rio de Janeiro
(Foto: Estevam Avellar / TV Globo)

A morte do ator e diretor José Wilker, neste sábado (5), também deixou um vazio na cultura pernambucana. Nascido no Ceará, Wilker se mudou ainda criança para o Recife e sua história se mistura à do teatro popular de Pernambuco, onde começou a carreira. Para personalidades da área, o ator e diretor deixa saudade e também sua marca na luta pela cultura local.

José Wilker começou sua carreira no teatro no Movimento de Cultura Popular (MCP) do Partido Comunista. Fundador do movimento, o ex-prefeito de Olinda Germano Coelho se lembra do menino magrinho que chegara ao grupo. "Eu me recordo dele representando diversas peças onde hoje é o Sítio da Trindade [Zona Norte do Recife]. O teatro foi uma parte muito importante dentro do movimento, principalmente junto da juventude", contou Coelho.

Uma das peças que marcaram o grupo foi sobre a reforma agrária, "Julgamento em novo sol", que tinha Wilker no elenco. Na época, João Goulart era o presidente e convidara o grupo teatral a apresentar o espetáculo na Granja do Torto, em Brasília. "Foi um sucesso. José Wilker estava dentro desse conjunto. Todos eles, rapazes e moças, eram estreantes. Aquele menino, bem magro, que era José Wilker, se tornou um dos grandes do teatro brasileiro. Ele vai deixar saudade, mas teve uma vida muito bonita", resumiu Germano Coelho.

O secretário de Cultura de Pernambuco Marcelo Canuto, lembrou que, em diversas entrevistas, Wilker ressaltava sua ligação com o estado. "Ele era uma referência de produto cultural brasileiro. Ele sempre teve uma profundidade e um compromisso muito grande, primeiro com o teatro, depois com a televisão e o cinema. Pernambuco também tem que homenagear e reconhecer que ele teve e tem na cultura pernambucana", apontou Canuto.


Em nota, o atual governador de Pernambuco, João Lyra Neto, relembrou a trajetória de Wilker e registrou "com enorme pesar a morte deste grande artista profundamente ligado à cultura do nosso estado, intelectual militante das causas populares e, antes de tudo, um grande brasileiro". Também em nota, o ex-governador Eduardo Campos disse que Wilker foi um grande incentivador do cenário cultural e um pernambucano de coração. Ele destacou ainda a participação do ator no MCP, criado nos anos 1960 por seu avô, Miguel Arraes.

Cine PE
José Wilker tinha uma relação com o Cine PE desde os primeiros festivais. Em 1998, inclusive, foi o apresentador da solenidade de encerramento. Em 1997, foi o primeiro ano em que veio como convidado. No total, ele esteve no festival 6 vezes, as duas últimas ele veio para divulgar "Bem Amado", de Guel Arraes, e no ano passado, para divulgar "Giovani Improtta", longa que dirigiu. Passou uns três dias na cidade da última vez que veio.

O Cine PE, marcado para o dia 26 de abril, já contava com a presença do ator, pois ele seria um dos homenageados, junto com Laura Cardoso e os 50 anos do filme "Deus e o Diabo na terra do Sol", de Gláuber Rocha. Wilker iria chegar no dia 1º de abril.

"Fomos pegos de surpresa, mas a homenagem continua, agora mais que nunca. Só vai ter o formato reformulado. Era para ele estar aqui com a família, com os amigos. Falei com ele na quinta-feira passada e iríamos nos encontrar na semana que vem, no Rio de Janeiro. Ele ia me dar a lista de amigos e família que ele queria que estivessem na homenagem. Ele até brincou: 'quero botar eles na primeira fila, para me aplaudirem'. Para quem não sabe que a gente tinha a homenagem prevista desde o ano passado para Wilker vai achar que a homenagem é porque ele morreu, mas estamos fazendo pela vida e obra dele, pelo que ele trouxe para o estado. É um cara com 49 filmes, diretor de um, crítico, curador, um artista", contou.

José Wilker tinha ainda três irmãs que moram em Pernambuco. Muito emocionadas, as três preferiram não dar entrevistas, mas seguem ainda hoje para o Rio de Janeiro, de acordo com a família.

Do G1 PE

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