21/03/2013

Em PE, seca causa morte de rebanho e derruba em 70% a produção de leite

Rebanho morto em Itaíba, no Agreste de Pernambuco (Foto: Márcio Alves dos Santos / VC no G1)

A seca que atinge Pernambuco está afetando gravemente a produção de leite no estado. Dados da Agência de Defesa e Fiscalização Agropecuária de Pernambuco (Adagro) apontam para uma redução de quase 70% na produção da bacia leiteira, formada por 14 municípios, com prejuízo mensal estimado em R$ 36 milhões. Antes da estiagem, o Sindicato das Indústrias de Laticínios e Produtos Derivados do Estado de Pernambuco (Sindileite) contabilizava a produção de 2,3 milhões de litros por dia e, agora, 830 mil litros são produzidos diariamente. A queda afeta consumidores, que sentem a alta dos preços dos derivados que chegam às prateleiras, e principalmente os criadores, que presenciam a morte do rebanho com a falta de chuvas no interior pernambucano – o Sindileite aponta a morte de mais de 200 mil animais e o abate precoce de outros 528 mil.

Dados de março da Secretaria da Casa Militar de Pernambuco apontam que 1,3 milhão de pessoas estão sofrendo com a estiagem no estado. Dos 158 municípios pernambucanos, 132 decretaram estado de emergência - dos quais 126 tiveram essa condição reconhecida pelo Ministério da Integração Nacional. "Estamos diante de algo extraordinário. Talvez seja a seca mais severa dos últimos 60 anos, em algumas regiões do Nordeste", comentou o ministro Fernando Bezerra Coelho, em reunião com prefeitos de 50 cidades pernambucanas, esta semana, no Recife.
Através do VC no G1, o internauta Márcio Alves dos Santos enviou fotos da difícil situação sofrida por seus pais, moradores da Zona Rural de Itaíba, município que fica no Agreste de Pernambuco. Considerada a maior produtora de leite de Pernambuco e a 16ª do Brasil, com produção 75,7 milhões de litros por ano antes da estiagem, Itaíba vive o castigo da seca: hoje, o rebanho da cidade produz 45 mil litros por dia, contra 175 mil litros diários obtidos antes da falta de chuvas, segundo o Sindileite. Márcio dos Santos conta que o gado está morrendo porque a família não tem mais condições de comprar comida para alimentar os bichos. “A situação é de perda total. Já morreram 22 cabeças do ano passado para cá, e os que ainda estão vivos a gente está só esperando morrer, porque não temos dinheiro para comprar ração”, explica o internauta.

A renda da família, que produz leite para ser vendido a uma queijeira da cidade, caiu muito por causa da estiagem. Atualmente, os pais de Márcio estão vivendo com a aposentadoria da mãe dele, Irene Santos, que precisa fazer render um salário mínimo para pagar todas as despesas. “É só o salarinho mesmo, que é para tudo: comida, remédio... Quando chega o fim do mês, não tem mais dinheiro para nada”, afirma Irene. A pequena produtora fala que, antes da seca, ela e o marido chegavam a tirar de 15 a 30 litros quinzenalmente. “Não tiramos um pingo de leite, desde que começou a seca”, lamenta.
Impedida de manter a pequena produção leiteira, família
em Itaíba, PE, sobrevive apenas com aposentadoria
(Foto:Márcio Alves dos Santos / VC no G1)

A pequena produção da família Santos é um exemplo da falta de apoio que algumas comunidades estão tendo das autoridades para conseguir manter o gado e a produção pecuária. “A gente não conseguiu nenhum auxílio do governo. Até a água que eles [os pais] conseguem é comprada”, diz Márcio. A gerente da Adagro, Erivânia Camelo, fala que o governo estadual está cortando cana-de-açúcar para distribuir entre os produtores, mas é preciso que os mesmos paguem pelo transporte do produto.

“A cana é o grande problema. O governo estadual comprou a cana, mas falta transporte, que é por conta do produtor, que precisa pagar o frete do caminhão, e o produtor muito pobre não tem condições de buscar a cana na Zona da Mata. Para atender à bacia leiteira, são necessários cinco quilos de cana para cada animal, e nós precisaríamos por dia de seis mil toneladas. Hoje, o governo, com grande dificuldade, está liberando 600 toneladas, 10% da quantidade necessária, então existem milhares de produtores que nunca receberam um quilo de cana”, enfatiza Erivânia.

Além da cana-de-açúcar, o governo de Pernambuco vem recebendo o apoio do governo federal, que mantém, no estado, 12 polos de venda de milho a preço subsidiado - é o chamado Programa de Venda em Balcão. De acordo com Ricardo Jucá, gerente de produção e comercialização da Secretaria-executiva da Agricultura Familiar, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) traz a Pernambuco o milho vindo do Mato Grosso, e o governo estadual leva o produto para o interior. "Hoje existem dois polos de milho da Conab, no Recife e em Petrolina [no Sertão], e o governo do estado, em parceria com algumas prefeituras e com o próprio governo federal, abriu mais outros oito postos."

G1 PE

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