Heitor Scalambrini Costa
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Já é de conhecimento notório a relação (in)existente entre os gestores públicos do setor elétrico e a patuléia (como diria o respeitado jornalista Elio Gaspari quando se refere ao povo). A arrogância, a prepotência, a falta de ética destes servidores públicos são evidentes, quando tem que dar explicações sobre os erros na condução deste setor, de vital importância para os destinos do país, e principalmente de sua população.
A perda de reputação e de credibilidade só aumenta quando lemos, escutamos e vemos estes senhor@s tentarem explicar o inexplicável. Que mais uma vez, depois de 12 anos do inesquecível desabastecimento ocorrido em 2001/2002, os mesmos erros se repetiram, e a luz amarela acendeu. Estamos novamente discutindo se haverá ou não falta de energia. Se será, para “amanhã”, ou em 2014/2015.
A semelhança da situação que chegamos em 2013 com relação a 2001 é que em ambos casos houve falta de planejamento e gerenciamento, falta de investimentos no setor, período de estiagem prolongada comprometendo assim os níveis dos reservatórios de água. Vale aqui o ditado popular, memória de maus dias, “tudo como dantes no quartel de abrantes”, no que se refere a negação, por parte das autoridades da existência de risco de ocorrer o desabastecimento de energia elétrica. Parece validar o ditado siciliano de que “o pior nunca tem fim”.
Há também diferenças que permitem afirmar que a falta de energia não é para agora, mas que existe risco a partir dos próximos anos, caso não haja uma mudança radical no que concerne à diversificação da matriz elétrica, incorporando substancialmente as novas fontes renováveis, geração solar (o uso em larga escala do aquecimento solar e da micro geração fotovoltaica) e eólica. Chega de retórica. A contribuição destas fontes tem que ser rapidamente elevada para níveis de 15 a 20% da capacidade total instalada. Além de ser levado mais a sério, ou seja, priorizar investimentos no uso eficiente de energia. Evitando assim desperdícios em processos industriais obsoletos; sistemas de refrigeração, aquecimento e iluminação inadequados; utilizando sistemas de automação, por exemplo, que permitem o desligamento automático quando não há pessoas presentes no local.
Mas voltando a soberba dos dirigentes do setor elétrico, duas entrevistas recentes corroboram esta afirmativa. A primeira (6/1) foi com o diretor de engenharia da Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco (CHESF), que em um programa nacional de grande audiência, declarou diante da pergunta da repórter, em tom de deboche, que era correto a estratégia da empresa em participar de vários leilões para a construção de linhas de transmissão, e depois não poder atender os prazos de construção (desculpando com a justificativa da demora em obter licenças ambientais, etc, etc, etc...). Assim sistemas de geração eólicos (mais de 600 MW) estão prontos para funcionar no Nordeste há mais de 6 meses, mesmo antes das linhas de transmissão. Portanto não podem ser interligados ao sistema nacional. O que acarreta prejuízo ao consumidor que tem que pagar a conta. Além de outras respostas que só assistindo para se ter uma idéia do desprezo com a rafaméia.
Outra “pérola” que merece destaque foi a entrevista coletiva (9/1) após reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) em Brasília, com o Ministro de Minas e Energia, e principais dirigentes do setor. Estas autoridades, com ênfase o ministro de estado, responderam o que quiseram. Muitas vezes desdenhando as perguntas dos jornalistas presentes. Afirmativas vazias sem comprovação técnica do que estavam falando foram comuns nos pouco mais de 40 minutos de entrevista. Sem que em nenhum momento admitissem que muita coisa poderia ter sido feita entre 2001 e 2012, e que a situação atual é de risco. Só vendo e ouvindo para crer.
Bem enquanto isto, para a população que infelizmente ainda é mera expectadora, resta rezar aos deuses, e se possível, praticar a dança da chuva. O carnaval esta ai.
Professor da Universidade Federal de Pernambuco
Já é de conhecimento notório a relação (in)existente entre os gestores públicos do setor elétrico e a patuléia (como diria o respeitado jornalista Elio Gaspari quando se refere ao povo). A arrogância, a prepotência, a falta de ética destes servidores públicos são evidentes, quando tem que dar explicações sobre os erros na condução deste setor, de vital importância para os destinos do país, e principalmente de sua população.
A perda de reputação e de credibilidade só aumenta quando lemos, escutamos e vemos estes senhor@s tentarem explicar o inexplicável. Que mais uma vez, depois de 12 anos do inesquecível desabastecimento ocorrido em 2001/2002, os mesmos erros se repetiram, e a luz amarela acendeu. Estamos novamente discutindo se haverá ou não falta de energia. Se será, para “amanhã”, ou em 2014/2015.
A semelhança da situação que chegamos em 2013 com relação a 2001 é que em ambos casos houve falta de planejamento e gerenciamento, falta de investimentos no setor, período de estiagem prolongada comprometendo assim os níveis dos reservatórios de água. Vale aqui o ditado popular, memória de maus dias, “tudo como dantes no quartel de abrantes”, no que se refere a negação, por parte das autoridades da existência de risco de ocorrer o desabastecimento de energia elétrica. Parece validar o ditado siciliano de que “o pior nunca tem fim”.
Há também diferenças que permitem afirmar que a falta de energia não é para agora, mas que existe risco a partir dos próximos anos, caso não haja uma mudança radical no que concerne à diversificação da matriz elétrica, incorporando substancialmente as novas fontes renováveis, geração solar (o uso em larga escala do aquecimento solar e da micro geração fotovoltaica) e eólica. Chega de retórica. A contribuição destas fontes tem que ser rapidamente elevada para níveis de 15 a 20% da capacidade total instalada. Além de ser levado mais a sério, ou seja, priorizar investimentos no uso eficiente de energia. Evitando assim desperdícios em processos industriais obsoletos; sistemas de refrigeração, aquecimento e iluminação inadequados; utilizando sistemas de automação, por exemplo, que permitem o desligamento automático quando não há pessoas presentes no local.
Mas voltando a soberba dos dirigentes do setor elétrico, duas entrevistas recentes corroboram esta afirmativa. A primeira (6/1) foi com o diretor de engenharia da Companhia Hidroelétrica do Rio São Francisco (CHESF), que em um programa nacional de grande audiência, declarou diante da pergunta da repórter, em tom de deboche, que era correto a estratégia da empresa em participar de vários leilões para a construção de linhas de transmissão, e depois não poder atender os prazos de construção (desculpando com a justificativa da demora em obter licenças ambientais, etc, etc, etc...). Assim sistemas de geração eólicos (mais de 600 MW) estão prontos para funcionar no Nordeste há mais de 6 meses, mesmo antes das linhas de transmissão. Portanto não podem ser interligados ao sistema nacional. O que acarreta prejuízo ao consumidor que tem que pagar a conta. Além de outras respostas que só assistindo para se ter uma idéia do desprezo com a rafaméia.
Outra “pérola” que merece destaque foi a entrevista coletiva (9/1) após reunião do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) em Brasília, com o Ministro de Minas e Energia, e principais dirigentes do setor. Estas autoridades, com ênfase o ministro de estado, responderam o que quiseram. Muitas vezes desdenhando as perguntas dos jornalistas presentes. Afirmativas vazias sem comprovação técnica do que estavam falando foram comuns nos pouco mais de 40 minutos de entrevista. Sem que em nenhum momento admitissem que muita coisa poderia ter sido feita entre 2001 e 2012, e que a situação atual é de risco. Só vendo e ouvindo para crer.
Bem enquanto isto, para a população que infelizmente ainda é mera expectadora, resta rezar aos deuses, e se possível, praticar a dança da chuva. O carnaval esta ai.
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